sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Batalha Interrompida de Evan

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A vida sempre nos reserva mistérios os quais nos envolvemos de tal maneira que ficamos a buscar respostas e esclarecimentos, caso contrário ficaremos submersos naquele quebra-cabeça com respostas pela metade ou argumentações inconclusivas. Eu sei que a vida, diariamente e mansamente, me envia sinais, recados, avisos, me indicando o caminho mais certo e correto a seguir, aquele caminho cujos passos me darão a sensação de realização plena, de felicidade pelos meus pensamentos, meus atos, minhas ações mais sinceras e silenciosas. Hoje assisti a um documentário na HBO, e enquanto eu assistia, emoções diversas inundavam meus pensamentos. Fui sentindo tanta coisa dentro de mim, que o ambiente de minha casa pareceu ficar do tamanho de minha mão. Sentia tristeza e comoção pelo sofrimento dos pais diante do filho que trazia dentro de si um transtorno bipolar, que o fazia pular da alegria mais extrema em estar vivendo para a depressão mais profunda e perigosa, inserindo em sua jovem mente até a idéia de suicídio. A impotência tomou conta de mim quando eu percebia que, mesmo sabendo de minhas possibilidades e meus potenciais como pessoa para ajudar aos outros e principalmente aos meus amigos, ainda haviam pessoas, jovens que precisavam de uma amizade muito mais forte do que a morte pode parecer aos seus olhos.
Eu sempre tenho a certeza dentro de mim de que as amizades verdadeiras, quando bem plantadas, desenvolvidas e cultivadas, podem superar tudo nessa vida, todos os males, todas os vícios, todas as ignorâncias, todos os sofrimentos, todas as maldades. E enquanto eu assistia o documentário, enxergava o sofrimento dos pais, e principalmente do pai do jovem Evan Perry, presenciando a trajetória dolorosa de seu filho, que enxergava somente na morte única saída contra a sua doença. Em determinado trecho do documentário criado pela mãe, Danna Perry [na foto acima com Evan] afirmava que aos 7 anos, seu filho agia como se fosse um adolescente de 15 anos, com mudanças extremas de humor, pensamentos inconstantes e idéias mórbidas sobre a vida, sobre as pessoas, e sobre ele mesmo. E perguntas saltaram em minha mente, enquanto eu me sentia uma pessoa impotente por saber que pessoas sofrem silenciosamente, e nem nos damos conta: o que se passou na cabeça de Evan, aos 15 anos, ao escrever sua derradeira carta suicida em seu laptop e logo em seguida tirar a própria vida, pulando da janela de seu quarto? Imaginar os pensamentos de um jovem que simplesmente foi engolido por problemas terríveis e angústias aparentemente insolucionáveis pouco antes de sua morte é um desafio forte, muito forte. E diante de tantas perguntas cujas respostas parecem não estar nesse mundo, a única certeza que posso trazer para esse texto que escrevo é a que vai em meu coração: o que eu sempre faço pelos meus amigos verdadeiros, eu poderia ter feito pelo Evan, pela família dele, pela mãe dele, pelo pai dele, pelos irmãos dele. Ser amigo, dar conselhos, orientar, estender a mão, o ombro amigo nos momentos mais difíceis, estar presente nos momentos mais complicados e negros, ser a luz, a direção, ser amigo. É como eu disse para meu amigo Inochi no msn: parece que só eu tenho o "dom" de enxergar tudo aquilo de mais importante e imprescindível na vida e que todos neste mundo aparentemente esqueceram de ver, ou não conseguem mais sentir.

Documentário: Boy Interrupted
EUA, 2008, 98 min.
Produção e direção:
Danna Perry
HBO Documentary Films

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