terça-feira, 10 de julho de 2012

Movimento Rápido dos Olhos

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Você corre através do dia tentando captar todos os sinais e mensagens, mas a chuva atrapalha. Você gosta da chuva, mas precisa encontrar as mensagens e decifrar cada dia que vive através de você. Os pingos molham seus cabelos, ensopam sua roupa, enquanto sua mente explora arquivos diários, relembrando que você saiu cedo de casa, mal tomando sua xícara de café com leite. Selecionou algumas contas atrasadas, olhou as horas pela quinta ou sexta vez, como se quisesse ter certeza de que o tempo não estava contra você, pegou suas chaves e saiu sem dizer adeus para um apartamento cheio de ausências. Os compromissos do dia estavam a lhe esperar na porta do prédio, então você desceu as escadas com uma urgência fingida, quase cínica. Abriu o portão ruidosamente e sentiu a amplitude do corredor vazio.
Você anda através do dia sem entender a necessidade oca de algumas tarefas diárias. É preciso realmente realizá-las? Sua indagação é meio tímida, mas insistente, e você caminha na chuva, enquadrando as esquinas em seu itinerário e fugindo do tempo frio e úmido. Os prédios escondem o horizonte de seus olhos enquanto você vai seguindo a rota de seu cronograma previsto. A chuva continua caindo, seus pensamentos flutuando ao seu redor, e as luzes se acendem para um dia escuro. Você tem planos, mas parece que eles escapam sempre para o dia seguinte e ficam rodopiando em pequenos redemoinhos, enquanto aquela sensação de impotência misturada com ansiedade deixa aquele sutil gosto grudento em sua boca. Quer abraçar o mundo, mas é difícil quando suas mãos estão amarradas nas costas. Quer amar sem medo, mas é complicado quando seu coração é um sobrevivente cheio de cicatrizes de anteriores batalhas dolorosas.
Enquanto espera o sinal fechar para atravessar avenidas, alguém ao seu lado escolheu Deus como bode expiatório para as maldades obscenas que massacram seu pequeno mundo de desilusões. Mas para você, Deus se encaixa mais como uma brincadeira de mau gosto que atravessa os séculos e incomoda gerações. Perdido nesses pensamentos, entre um suspiro e outros seus passos se adiantam, deixando os outros pedestres para trás, ainda na expectativa do sinal abrir. Solto no meio do trânsito, você caminha indiferente aos carros, quando subitamente se assusta e olha para o lado no exato momento em que um ônibus o atinge em cheio.
Você acorda assustado, coração em ritmo de desespero, a mente tentando assimilar o mundo se abrindo para seus olhos arregalados. Tentando se acalmar, busca as horas no relógio pendurado na parede. Levanta-se lento, ainda um pouco atordoado. Superado o susto do pesadelo, você se arruma e corre através do dia tentando captar todos os sinais e mensagens, porém a chuva atrapalha. Você gosta da chuva, mas precisa encontrar as mensagens e decifrar cada sonho que pulsa dentro de você.


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