segunda-feira, 28 de maio de 2012

E nessa escala de tempo geológico, aqui estou eu errante andarilho perdido no período Holocênico, presenciando a criação de pequenos infernos terrestres e o fim de minúsculas eras celestiais. Civilizações surgiram e desapareceram desde a última era glacial. Povos criaram e destruiram o mundo centenas de vezes, nações nasceram e sumiram na poeira dos tempos seculares. Líderes, governantes, ditadores, estadistas, imperadores, todos eles alcançaram o poder, e ainda assim tudo permaneceu efêmero e passageiro diante da escala do tempo. Movimentos, revoluções, guerras, batalhas, militâncias, tudo planejado para desenvolver mudanças, e ainda assim as mudanças se tornaram obsoletas e ultrapassadas. Cientistas, inventores, filósofos, pensadores, todos desenvolvendo o entendimento sobre o mundo que surgiu desde a última era glacial, e ainda assim tudo que se escreveu ainda não é o suficiente para explicar o funcionamento preciso deste complexo universo expansivo.
Sinto-me solto neste mundo buscando entendimentos e sentimentos que definam minha origem e meu destino. Tenho aqui e agora essa vontade de escrever e correr o mundo numa liberdade que somente a mim cabe, poeta e andarilho holocênico descobrindo um mundo vasto perdido em céus e infernos criados por todos os homens.

Canção do Andarilho Holocênico

Na terra dos deuses descansei meus pés cansados
Andei livre e desesperado pelas montanhas desenhadas por mim
Desenterrei meus passos para relembrar as estrelas que segui
Desmontei altares e despedaçei pedaços de orações alheias

Na terra dos descrentes desfraldei discursos flamejantes
Despenquei de penhascos gelados e deslizei pela linha do horizonte
Andei sobre as águas que descansam no copo meio vazio
Afoguei meus desassossegos que boiam no copo meio cheio

Na terra dos dragões derramei meus sonhos delirantes
Distante de tudo e de todos descobri desvios e declives
Demarquei minhas fronteiras e desloquei territórios
Caminhei entre demônios acenando para anjos no céu

Agora toda semana eu espero pelo fim do mundo
com esse meus incansáveis olhos de pecador
e meus pensamentos com gosto de vinho vindo de longe
Despertando a vontade em desvendar terras novas.

por Ulisses Góes,
em maio 2012



 
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