sexta-feira, 16 de junho de 2006

Viver nesse mundo onde todos esqueceram o que realmente é amar ao próximo está cada vez mais difícil e sufocante. Esse mês presenciei uma passeata pela paz promovida pela sociedade organizada aqui em minha cidade. Considerei bastante louvável a iniciativa de todos. Balões brancos, discursos inflamados, a cidade praticamente parou e se uniu num sentimento mútuo de busca por dias melhores. E então veio o dia seguinte, e suas surpresas impregnadas em nossas rotinas e cotidianos. No dia seguinte, presenciei algo completamente oposto ao que tinha visto no dia anterior. Um pobre coitado havia roubado uma mulher dentro de casa, e saiu correndo desembestado pela rua, buscando fugir. Foi perseguido e aqui, logo abaixo da janela de meu apartamento, ele foi pego. Encurralado que nem um animal, quase linchado, praticamente alvo de toda ira popular, de olhares curiosos, de gente querendo motivos para alterar a rotina diária. Juntou gente ao redor do pobre infeliz, um homem baixo, de pele morena, descalço, barba por fazer, suado, de bermuda e camisa, praticamente a imagem viva da miséria humana. Chamaram a polícia, e quando apareceu a Força Especial, os policiais simplesmente chegaram intimidando, intimando, batendo, humilhando, fazendo pouco caso daquele ser humano perdido em seus rumos. Ele foi humilhado, espancado, e até spray de pimenta jogaram-lhe nos olhos, ele já algemado e sentado na calçada, esperando a condução que o levaria preso até a delegacia.E eu fiquei indignado, me perguntando se era isso mesmo que tinha que acontecer naquela manhã. E o que houve na manhã anterior? Toda aquela manifestação pela paz, onde foi parar? Policiais que humilham pessoas, mesmo que elas sejam marginais. Pessoas manifestando ódio, raiva, por uma pessoa que elas mal conhecem e que nem sequer fizeram mal a elas, apenas à pessoa que havia sido assaltada. Não sei realmente como caminha e para onde vai o mundo aí fora. Estou eu aqui, refugiado em meu pequeno universo, minhas atividades, meus trabalhos, vivendo meus dias mais amenos e despretenciosos, como nunca vivi antes em minha vida. Pessoas gostam de mim de maneira especial, ganho o carinho e o amor de pessoas que me tem como exemplo e me tem como porto seguro em suas vidas conturbadas. Aqui dentro, não me sinto só. Mas quando saio no mundo lá fora, sinto-me unicamente solitário, por achar que eu deva ser uma espécie em extinção, que sempre acredito no amor, na amizade, no companheirismo e nas pessoas. Sinto-me um anjo caído, sem as asas, impossibilitado de alçar vôos e buscar uma iluminação maior.
 
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